quinta-feira, 30 de abril de 2009

O Jogo do Medo de Amar

Tive medo de jogar
Ver o dado dar cambalhotas
Girar, rodopiar sobre si
Mostrar números incertos
Tive medo de jogar
Tirar a carta
Montar o jogo de naipes
Mostrar combinações possíveis
Tive medo de jogar
Girar a roleta
Enquanto a bola a tilintar
Mostrar a casa, a cor e saltar
Tive medo de jogar
Fazer uma fé na milhar
Cercar pelos doze
Pra ver o bicho que dá
Tive medo de jogar
Lançar os búzios
Mostrar ao acaso da vida
O caso que será
Tive medo de jogar
Virar a carta do tarô
E no simbolismo de tentar
No jogo do medo do amor
Perder o medo de amar

Marcadores:

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Festa de Jorge II

Permeando aquele espaço
Entre feras e outras bestas
Saquei da lança, desci do cavalo
Cambaleei ritmado procurando o prumo
Já dançando embalado no rumo
De tal feito me dei conta
Do tempo que a lembrança remonta
Perambulei atrás da cronologia
Escutei na cantiga o arremedo
Refrão cantado em coro
Gingado de pé arrastado na melodia
Difuso no arremate do repente
Clamei por Jorge novamente
Valei-me Jorge!
Joguei caxangá ao som do carimbó
Veio o côco, troquei perna
Rodopiei, quase dei um nó
Salve a festa moderna
Aquela que de ano em ano
Que no dia do santo
Sobe ao Espírito Santa
Lá onde tudo cabe
Onde tudo mexe
Onde o mundo é miudinho
Feito isso...

Marcadores:

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Chuva de Verão

Rufa trovão!
Enquanto o vento açoita a chuva
Um rio de luz se engarrafa
Centopéias de máquinas transitórias
Fazem coreografias caóticas
Clareia relâmpago!
Enquanto uma cortina de água baila com o vento
E eu, pasmo, olho tudo da janela
Um autorama em dimensões reais
Escuto a melodia do temporal
Vento, relâmpago e trovão
Encenam a peça magistral
Natureza viva
Assisto tudo admirado
Chuva de verão!

Marcadores:

Lisboa

Vaguei, subi e desci ladeiras
Parei nas costas do Castelo de São Jorge
Esplanada de clima sublime
O mundo pousa aqui
Em sons e línguas distintas
Miscigena culturas como as nossas
Ouvem-se fados como bossas
Uma mulata, como tantas brasileiras,
Troca passos, ensaia a cadência do rebolado
Clareia em sorrisos e cores
Desperta malícia e amores
Em Lisboa, quadro a quadro,
Forma-se o Bar das Imagens

Marcadores:

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Tal do Tempo

Olho pro relógio,
Que como um sádico,
Sorri pra mim
Dizendo que aquele tal de tempo
Faz tempo que não passa...
Fito seu sorriso sarcástico,
Tentando ignorar sua inércia,
Sem resultado.
Agonizo ter que dar razão ao provedor das horas.
Pois tudo parou naquele dia...
A lua cheia se fez astróloga,
Influenciando com seus presságios
A cadência da minha estrela,
Que se escondeu num eclipse cinza,
Nublando sonhos e promessas.
Desde aquele dia sombrio
Espero o tempo passar e a lua mudar,
Pra eu reencontrar num céu azul
O brilho astral que iluminava minha solidão

Marcadores:

Solstícios Astrais

O verão se foi...
Os loucos elucidaram
E os lúcidos enlouqueceram,
Hibernaram na razão,
Na fria cumplicidade.
O conformismo convenceu.
E sem contestação
Os astros se ocultaram
Em cortinas de indecisão,
Cegando sábios e magos.
O inverno trouxe lágrimas à noite
Que hoje chora
Nos dias desta estação
Chamada solidão...

Marcadores:

Memórias Póstumas do Rock’n’Roll

Fractais sonoros propagam espasmos,
Gritos de uma lucidez lisérgica
Viajam ecoando entre épocas,
Imortalizando hinos e tenores.
O tempo se contorce em convulsões,
Agonizando num balé de regressões...
Ritmos e sons se alternam
Em solos e delírios anacrônicos,
Ressuscitando uma overdose de óbitos.
Os berros de uma diva
Me levaram à mímica de sua loucura.
Imitei seus clamores em gestos desordenados,
Segui o descompasso dessa alucinação
Vi ressuscitar do silêncio loucos suicidadas
Que acordaram e agradeceram o clássico “revival”
Cantando seus hinos num balé frenético,
Breve loucura...
Acaba e adormece seus portadores
Restam reproduções sonoras,
Lembranças vagas e sujas,
Dos rituais acústicos que tapearam a lucidez do silêncio

Marcadores:

Dúvidas e Temores

Entre incertezas, medos e indecisões,
Somente faz sentido o que sentimos.
Pois o resto...
Um dia veremos...
Valeu a pena sentir medo,
Ficar indeciso,
Nesse dia teremos coragem, certeza,
E não duvidaremos...
Ou temeremos o que sentimos.

Marcadores:

Espelho do Olho

Deixe seus olhos carentes,
Que choram por liberdade,
Refletir o brilho dos nossos desejos.
Deixe sua timidez me tocar
Com seus carinhos que falam em silêncio,
Pois quero ouvir a cada toque tímido e mudo
Tudo que não percebi com palavras sem nexo...
Seus gestos denunciam a magia
Da nossa ingênua realidade.

Marcadores:

Movi...mentos

Meu olhar me denuncia,
Viajo com sua visão,
Imagino...
Te observo sempre que posso.
Leio nos seus olhos
Palavras que não posso ouvir.
Seus movimentos sempre perfeitos,
Os meus? Ah... Os meus...
Obscenos e duvidosos...

Marcadores:

O Homem e o Incenso

Num desequilíbrio fumegante,
O que antes exalava aromas
Agora despenca em cinzas,
Sem nenhuma essência.
De um mínimo ponto
Comandava um balé de nuvens uniformes
Mensagens que purificam e amenizam.
Para uns, ritual, devoção...
Para outros, só mais um incenso que acabou.
Assim como os filetes aromáticos,
Os homens ascendem à vida,
Exalam bons e maus odores,
Comandam nuvens,
Que nem sempre purificam ou amenizam,
Mas sempre acabam em cinzas.

Marcadores:

M E D O

Púrpura e não natural é cor do seu dia,
Um cemitério vivo
Aguarda a inércia do seu corpo,
Estático e frio.
Faz sangrar sua coragem,
Hemorragia sem fim...
Ata mãos e atos,
Reduz certeza a meros desenganos,
Realidades a ilusões.
Negra é a cor de suas pálpebras,
De onde escorre lágrimas de fogo,
Cristalinas e úmidas, tatuam o leito de sua face.
Sua virtude é mesquinha,
Seu poder é absoluto,
Sua existência abstrata.
Hostil e duvidoso...
Absurdo M-E-D-O.

Marcadores:

Rarefeito

Vamos subir a serra fria
Sentir a condensação do ar
Estar perto e ver
Nosso hálito se dissipar em nuvens geométricas
Deixar o dedo de Deus nos tocar
Congelar e acordar um tempo à frente
Agasalhar e embebedar nosso medo
Redescobrir, no passo lento da manhã,
O despertar dos nossos sonhos.
E quando anoitecer,
Caminhar com os anjos...
Até encontrar nosso mundo.

Marcadores:

Tempestade

O tempo subestimou a ilusão,
Me chamou de confuso,
Se retorceu entre nuvens de lucidez,
Se desfez...
Com clareza vi o preço da razão,
Senti o peso da culpa
Me tranquei com medo
Aguardando as convulsões do tempo.
Entre relâmpagos e trovões de cobrança,
O que virá após a chuva?
Deixei que o tempo cobrisse com pelos
As rugas da juventude,
Dos anos que não aconteceram,
E fiquei com a cara de ontem,
Torcida e retorcida
Por uma tempestade de lágrimas.

Marcadores:

A Lucidez e a Loucura

Sussurra teus desejos,
Deixa acontecer.
Murmura teus segredos,
Me encontre,
Esqueça seu medo...
Sou um corpo aberto,
Exposto a você.
Venha e me descubra
Com toda loucura e obsessão,
Afinal, nem todos os loucos deliram...

Marcadores:

Impresso

Te conheci em caminhos virtuais
E com riqueza de detalhes
Imagino suas formas,
Traço seu perfil,
Em segundos te invento.
Tão rápido quanto seu nascimento,
É a triste dispersão da sua imagem,
Que aos meus olhos se dissipam em brumas,
Alternando em flashes imaginários
Momentos que anseiam por realidade.
Enquanto desejos e utopias não se fizerem verdadeiras,
Continuarei te imaginando...

Marcadores:

Amor Kamikaze

O brilho da indecisão
É uma escultura sem forma,
Ofuscando seu desejo,
Abafado pelo silêncio ensurdecedor de um cérebro imaturo,
Sombrio, indeciso e dividido...
Já não quero ouvir o barulho louco dessa máquina,
Fria e urbana.
Me agredindo com a ternura de um sentimento kamikaze,
Nessa guerra fria...

Marcadores:

Degrau Social

Nas ruas sujas,
Soldados de uma guerra fria vagam ao tempo
Numa busca sem fim.
Exército infantil, jovem e senil
Ao dia uma eterna fuga ao descaso
Artifícios, química e álcool
Vestem essa realidade triste
Suplicar migalhas entre olhares tristes e distantes,
A espera de piedade,
Misericórdia ou pena
Reprovação...
À noite, úmida e deserta,
Não há suítes cinco estrelas
Só marquises e trincheiras de farrapos
Onde a febre é a fome,
E a doença o abandono
De um povo pobre,
Jogado ao destino.
Hipocrisia política,
Aristocratas “high socities”
É uma sociedade homicida
Que critica Hitler, “apartheid” e Saddam
Atirando seus anjos no portal do inferno
Humanidade cega ou lei do mais forte?
Orgulhe-se...
Sinta-se parte dela!

Marcadores:

Insônia

Acordo assustado, trêmulo.
Percebo que nem num sonho,
Refúgio dos nossos desejos,
Consigo enganar minha consciência
Que finge não acreditar nessa realidade sem nexo.
Verdade contraditória
Que insulta a lógica e a razão,
Duvidando evidências
De uma mente que também se esconde atrás de falsos atos.
Até quando vamos dividir nossas noites?
Não quero mais te encontrar só
No silêncio da nossa insônia.
Até quando fugir da certeza?
Será por medo ou omissão?

Marcadores:

Pseudo Amizade

Não preciso de “amigos”
Falsos e breves amigos...
Amizades egoístas.
Em momentos contagiantes
Um sorriso... um cortejo,
Aproximação...
À sombra de lágrimas,
Só o que resta é omissão,
Desprezo...
Pobres e tolos amigos,
Um dia lhes direi adeus...

Marcadores:

Morte, Vida ou Sonho

Atravesso a madrugada
Cortejando a insônia
Num vazio hostil,
Fito o nada com tímido pavor da escuridão,
Se alternando em sombras e fantasias.
Só vejo figuras estranhas,
Falando em gestos mudos,
Dança frenética e obscura.
Não existem palavras nesse mundo distante...
Serão delírios de um pesadelo frio e sem fim?
Ou sonho acordado num despertar eterno?

Marcadores: ,

Cárcere Utópico

Se seus sonhos são nebulosos
E seu olhar só vê jogos sem fim,
Siga pelo caminho da escuridão
Nesse mundo que se contorce em dores,
Numa cólica sem cura...
Aqui se ouve um barulho enlouquecedor,
É o hino da fome corroendo um espaço vazio,
Tão vazio que a solidão caminha sozinha
A procura de alguém pra roubar seu calor.
Nesse universo de agonia e desespero
Pesadelos sombrios ameaçam seu despertar...
Comprometendo a fuga de um mundo utópico,
Imaginário...

Marcadores:

O Espelho

Ontem procurei minha imagem
Num espelho sujo e fosco,
Só vi figuras estranhas,
Sem forma...
Senti um gosto ácido na boca
Ao perceber que só refletia imagens grotescas, obscuras.
Em seguida, ouvi a voz doce de um anjo
Que falava de erros,
Que chorava por mim...
Hoje vejo que aquele anjo
Poderia ser meu próprio reflexo
Chorando por aquela vida suja e sem brilho.

Marcadores:

Poetas Nus e Crus

Flagrei-me num estado mental
Meio nem sei...
Meus olhos vermelhos na noite líquida
Escorre entre copos,
De gota em gota
Percebe entre bocas,
Tortas e semitortas
Um desejo entorpecente.
Libido inocente...
Cúmplice e complacente.
São tantos gestos insinuantes,
Fugitivos da razão.
Entre drogas e outros coquetéis
Rola a alquimia noturna.
Meu Deus!
Dê-me inspiração
Quero ver poesia,
Mas só vejo, disfarçados em alegria,
Poetas flagelados e destruídos.

Marcadores:

Esperança Suicida

Comprei a morte em forma de arma
Mandei meu amor pro inferno
Senti o sangue sujar,
Com sua cor de medo
Os sonhos do meu mundo egoísta.
Coragem, vaidade ou covardia?
Solidária?
Só a morte,
Pois silencia seu choro
Com alegria suicida.
Nem mórbida... Nem traiçoeira...
Otimista e esperançosa!

Marcadores:

Fim de Noite

Quero samba, batida amiga!!
Estou cevado por um líquido,
Relíquia dourada
Que me faz enlouquecer
E só assim esquecer do que não quero lembrar.
Quero samba e muito mais...
Quero estar aí,
Passar por aí...
Louco?! Talvez...
Ou a noite ultrapassa meus limites
Ou não há mais limites!
Você sumiu,
Não deixou endereço,
Nem tampouco esperanças.
Quero cerveja e muito mais...
Quero espantar os fantasmas da sua lembrança,
Que vivem a assombrar e atormentar minha mente,
Bailando em círculos incertos.
Quero renascer e muito mais!
Quero dizer tanta coisa...
E nem tanto tempo eu tenho.
Cadê as meninas do nosso mundo?
Será que elas querem ouvir palavras estáticas e mudas,
Restos de um dicionário duvidoso?
Quero copos cheios de vocábulos lúcidos
E muito mais...
A conta?
Um dia alguém paga!

Marcadores:

Fluxo e Refluxo

Vira e mexe o tempo escorre
E no seu passar líquido
A vida nasce,
A vida cresce
A vida envelhece,
A vida morre...
Vira e mexe o tempo goteja
Enlameia o mundo em ciclos
Era do renascimento,
Era do nazismo,
Era do globalismo,
Era do salve-se quem puder!
Vira e mexe o tempo despeja
Pragas e lamentos
Lava as chagas em enxurradas
Rios de guerras continentais.
Vira e mexe o tempo para,
Vira... descansa
Vira e mexe... Hiberna
Vira e mexe o tempo acaba,
Vira... Copula,
Vira e mexe... Fertiliza,
Vira e mexe nasce um novo tempo

Marcadores:

Etílico Imaginário

Sua voz escorre como uma tarde bucólica
Transforma, com suavidade, a acidez do dia,
Dando formas discretas à geometria quadrática.
Objetos antes estáticos
Agora se destorcem bailando ao som de suas notas.
Canta imaginação!
Boceja aos meus ouvidos,
Me faz levitar com sua melodia...
Pêssegos, lábios e copos de vinho
Contemplam a ternura de sua performance sonora

Marcadores:

Carnaval e Guerra

E lá se foi mais um carnaval...
Euforia e danação em esguichos explosivos,
Enredo libertino de marchas e canções,
Incitações de libidos impulsivos,
Máscaras de multidões travestidas...
Mais uma vez mesclou raças e crenças
Uniu corpos distantes
Distanciou outros tantos unidos
Embalou o consumo
Acelerou a economia numa ciranda atípica
E lá vem mais uma ressaca...
Razão em flashes espásmicos
Conscientização e culpa em marcha fúnebre
A verdadeira face despida de disfarces folclóricos
Expõe, a flor da pele, o pré-conceito
Instiga à guerra raças e crenças
Contrapõe corpos unidos ou distantes
Embala o consumo bélico
Desordena a economia numa ciranda típica de guerra
Mísseis caem do céu como confetes e serpentinas flamejantes
E lá se foi mais um carnaval...
E lá vem mais uma ressaca...
E lá se foi o folião...
E lá se foi o homem...
E lá se vai mais um soldado...
E lá se foi o mundo...

Marcadores:

O Pintor do Mirante Dna. Marta

O dia amanheceu com um sorriso iluminado,
O sol está as gargalhadas
As nuvens hibernaram numa tímida cumplicidade
Vem que o verão persiste
O mar insiste num vai e vem cíclico
A violência se calou
O Rio grita sua beleza
Contradiz manchetes de jornais sensacionalistas
Mostra ao mundo o seu mundo
Pobre, rico, barulhento e conturbado
Cínico e bucólico
Aguarda forasteiros eufóricos
Declina aos seus pés
Estendendo um mar de águas
Abrindo os braços do Cristo
Oferecendo um Pão de Açúcar
Vem degustar um Rio de prazer
Vem ver com seus próprios olhos
A expulsão de um corpo estranho chamado tráfico
Pelo alto astral de ser Rio
De Janeiro a Janeiro
Bala perdida, gente sofrida,
Vida intensamente vivida
Explosão de movimentos de norte a sul
Cultura ressurgente...
A cada crítica proferida
Um indigente se diz gente
Contradiz sua origem
Se lança ao mundo pelas portas do Rio
Que acolhe, acolhido no colo de montes,
Faz, acontece e mostra em telas coloridas,
Despido de medo ou hipocrisia,
O orgulho de ser carioca.

Marcadores:

A Sétima Arte

Por aqui a chuva deu um tempo
Por ai há uma chuva de guerra...
A palavra já não é sinônimo de civilização,
Nem a civilização é sinônimo de paz.
Tocam os clarins,
Sinfonia distorcida em sirenes.
Rufam os tambores,
Jogos de luz clareiam em explosões.
Começa o espetáculo do genocídio...
Balé de corpos em movimentos desesperados
Lágrimas e soluços intermináveis,
Diálogo do front,
Silêncio...
Primeiro ato
Maquiados e pálidos
Kachup e sangue
Poeira e escombros
Cena e cenário se misturam
Realidade sem efeitos especiais
É sangue!
Corta! Corta!
Eu quero realidade!
Tomada um!
Eu quero paz!
Diretor e diretriz.
Espetáculo de ilusões
Conflitos de inocentes
Leilão de corpos
Quem dá mais?
Em breve nos cinemas
Mais uma história triste
Mais um campeão de bilheterias
Logo a verdadeira razão aflora
A cova é rasa,
Os mortos falam por si só
Aguarde...

Marcadores:

Gabriela, Mulher Cachaça

Morena, líquida e inspiradora
Cor e cheiro de Cravo e Canela.
Gosto de liberdade,
Sabor de mel...
Quero te beber com gelo e limão!
Despertar em brilho, levitar...
Quem te consome parte pra névoa,
Quem te prova jamais te esquece.
Ruboriza rostos mais pálidos,
Encoraja tímidos à guerrilha noturna,
Transforma comedidos em Don Ruan,
Faz incorporar Drummond com palavras doces.
Somos poetas embebidos,
Com língua polida e hálito encorpado
Regemos recitais noturnos,
Empolgação furtiva.
Contagia, surge como um balé caricato.
Marionetes de doses entorpecentes,
Copos cheios de nome de gente
O mundo gira,
A cabeça pira
O coração se afoga em Rios de Gabriela,
Mulher cachaça...

Marcadores: ,

“E Loucu Brando”

E como penso!
Quem não?
Pensar é a manifestação da liberdade
Sem preço,
Sem castidade,
Sem pudor...
Pensamento não se compra,
Não se rouba
Não se invade.
Por ele passam asneiras e besteiras
Passam planos e xingamentos
Vez em quando ele aflora involuntariamente
E num monólogo louco
Você é visto excomungando o mundo,
Gesticulando como um político num comício.
Mesmo quando do anonimato
Eclode em público estrelato,
Mesmo assim é seu pensamento
Único, derradeiro e insano devaneio!
Por ele não serás julgado
Muito menos processado.
É seu muro de lamentações,
Império de ostentações,
Delírios, ilusões e aberrações
Às vezes envergonha até seu criador...
É seu próprio cinema mudo,
Um teatro de marionetes
De onde dirige saltimbancos,
Copula com virgens e prostitutas.
Nesse roteiro tu és diretor e coadjuvante
Personagens do real jogados no imaginário
Sob seu total controle,
Na vaga utopia, tu fazes nascer e morrer,
Manipula desde sentimentos até valores,
Profana religiões e princípios
Se auto intitula senhor dos acontecimentos.
É seu o pensamento!
Decidas até mesmo sua existência!
Eu, por exemplo, já pensei merda de mais...
Algumas, como essa, eu escrevi.
Outras, Nem me atrevi
Chega de pensar!

Marcadores:

Uma Tarde de Verão no Largo dos Leões

Estou com uma mania feia de escrever!
Outro dia brinquei com meu pensamento...
Hoje não quero fazer nada!
Não quero escrever,
Muito menos ver alguém...
Quero ver o tempo se esgueirando,
Se embolando com o vento tarado,
Que sopra horrores
Tudo para ver a calcinha da palmeira do Largo dos Leões!
Que rebola faceira ao excitante sopro
Já o pardal, se equilibra no fio,
Puto da vida com o maníaco natural e sexual
O céu, a lua e o sol gargalham loucamente
Ao ver a labuta do vento com o tempo
O coqueiro adere ao carnaval,
E num enredo triste,
Lança cocos ao vento
Palhas ao tempo
Implora a mãe natureza, numa reverência formal,
O fim da orgia ecológica.
Logo surge o trovão
Explode um eco "sorround"!!!
Ninguém escapa da confusão
Nem o grilo, "voyer" de carteirinha,
Que espiava, solitário, as genitálias da grande árvore.
O tenor dos céus convoca um exército de nuvens,
Um império disforme se ergue
Na coreografia celestial
A chuva comanda um balé de gotas,
Dissipa o alvoroço,
Esfria os sentidos excitados
De uma tarde quente de verão...
Que cheiro de terra molhada!

Marcadores:

Olhos de Lince

Involuntariamente seus olhos giram
São tantas mulheres liiiinnnnndas...
Cada qual com seu estilo
Ninguém escapa do seu olhar 360 graus
A velha é gatinha,
A gatinha é ninfeta
A riponga?
Nossa! Naturalmente linda!!
Tudo bucetas, peitos e bundas...
É... seria somente isso,
Mas há um porém!
Tarado? Não...
Somente o olhar critico,
Um admirador da beleza feminina,
Sem essa destreza passariam desapercebidas,
Seriam nada mais que corpos embalados para presente
Sim... bundas e bucetas em calcinhas ultrajantes,
Peitos em sustentáculos milagrosos
E tantos outros acessórios en-lou-que-ce-do-res!

Marcadores:

Galatea Profanada


Ahh... Galatea...
Vejo teu busto
Composto e decomposto,
Suspiro...
Sinto um sofrimento inexplicável.
Tento, entre tormentos,
Recompor suas esferas
Ahh... Galatea...
Distorço minha visão,
Foco e desfoco meu olhar
Esforço inútil.
Nem com todo meu pesar,
Nem com todo meu desejo de te ver inteira,
Nem assim consigo montar sua matéria
Só te vejo em átomos dispersos.
Rogo aos filósofos da Grécia antiga,
Rogo a Einstain,
Juntai suas partículas !
Foi Salvador Dali,
Foi o profano surrealista!
Fragmentou o indivisível
Transformou num mar de luas
A escultura de Pigmaleão...
Hoje te olho e, mesmo decomposta,
Vejo fonte de paixão.
Bendita seja Afrodite.
Que de mármore te fez mulher.
Em carne, osso e pecado.

Marcadores:

A mídia, a Média e o Sertão

Fala poeta translúcido
Que carrega cachos visuais
O mundo inspira, transpira...
O Mundo pira meu irmão!
Aguça tua percepção!
O mundo é a própria piração...
O que há se não discrepância?
Fome, morte, descaso,
Omissão,
Luxúria, ostentação.
É garoto visionário...
Veja sua poesia diluída em terra seca,
Teus sonhos, teus anseios
Nada disso ressuscita os mortos de fome
A multi-mistura engana estômagos ressequidos,
Ludibria a desnutrição,
Adia a morte de muitos
O que seria deles sem o terceiro setor?
Voluntários despidos de futilidade,
Abnegados do luxo e do prazer.
A mídia faz a média
A pobreza renega a mídia
No sertão?
Nem mídia, nem média, nem pão...

Marcadores: ,

O Que é Poesia

O que é poesia?!
Basta se permitir, perceber, sentir...
Ela existe, assim como a natureza,
Está aí, ali, acolá...
Está em qualquer lugar
Viu? Acabou de passar!
Há poesia na alegria,
Há poesia no pesar,
Há poesia na tristeza!
Há poesia em qualquer lugar...
Não tem regra, cor ou credo
Ela simplesmente existe
Está no ar que acabou de soprar,
Está na chuva que acabou de molhar,
Está em você,
Que viu poesia no que acabou de ler!
Acredite ou não, tudo é poesia...

Marcadores:

A Arma

O poder é bélico
A beleza é bela
A pobreza é tétrica

O poder quer pobreza
A beleza quer natureza
A pobreza quer comer:

O poder da destruição
A beleza da renovação
A pobreza da omissão

Marcadores:

Exclusão

Hoje só se fala em exclusão...
Exclusão social,
Exclusão cultural,
Exclusão digital,
Exclusão Racial, etc. e tal...
Na verdade, a exclusão é total...
É geral...
E você já contabilizou suas exclusões?
Quantos já excluiu de suas refeições?
Desperdiçando verdadeiros banquetes,
O que excede à sua mesa, falta na do excluído.
Quantos já excluiu do seu círculo de amizade?
Esbanjando modismos e futilidades
“Fulano não se encaixa... É “over”
Beltrano é brega,
É “playboy”, é mauricinho
É patricinha, é perua,
É viado ou vagabunda...”
Feudos, tribos, arquétipos,
Estereótipos e outras seleções,
Chega de exclusões,
Fodam-se todos!

Marcadores:

Inacabado

Me sinto marcado à ferro e fogo
Olho pros quatro cantos,
Só vejo você...
Já provei todos os remédios,
Nada cura sua falta.
Ora estou curado,
Ora abatido pela velha chaga
Febre intermitente
Me faz delirar, sonhar
Imaginar o que não aconteceu
Lembrar o que passou
Ciranda composta de risos e sobressaltos
Sinfonia de distorções
Antagonismo abstrato,
Maltrato...
Escultura imaginária,
Sinopse sem obra
Espelho sem reflexo...
Contradição e existência.
Deus! O que aconteceu?

Marcadores:

Fio de Ariadne (Aos Cegos, Surdos e Mudos)

Me comunico à velocidade da luz,
Em mímica, gestos e sorrisos.
Me expresso rompendo a barreira do som
Com caras, caretas e golpes no ar.
Misturo balé com karate
Sorvendo, em sinais, o silêncio urbano.
O mudo fala sem som,
O cego vê sem luz,
O surdo orquestra sem notas.
Meu eco não se propaga,
Meu estímulo é imaginário
Minha escuridão é daltônica
Sou surdo sim... E não te escuto,
Sou mudo sim... E não te canto,
Sou cego sim... E não te vejo,
Mas penso, sinto e percebo.
Quero ir, quero voltar,
Falar e enxergar,
Mas sinto uma dependência residual.
Adversidades da vida,
Pra mim meu fio de Ariadne...

Marcadores: ,

Amor, Miragem de Oz

Todo mundo fala, pensa, sente amor
Todo mundo ri, chora, mente por amor
Todo mundo destrói, constrói, mutila amor
Todo mundo trai, distrai amor
Todo mundo... Imundo amor
Todo mundo sem pudor
Inunda, transborda, goza e explode amor
Fraterno, terno, eterno amor
Platônico, bubônico, tônico amor
Cego, sem ego, amor em Braille
Irônico, risonho, humor amor
Erótico, gótico, Eros amor
Fugaz, tenaz, amor jamais...
Tudo amor...
Tudo miragem de Oz
(Acorda Alice!)

Marcadores: ,

O Engolidor de Palavras

Poeta e poesia
Traídos pelo progresso
Mutilados pela tecnologia
Os versos se perderam
As palavras fugiram
Vagam em mídias virtuais
Ah! Seu poeta contemporâneo!
Caiu na cilada da vanguarda...
Antes esculpir em preto e branco,
Bordado ao seu punho,
Que acreditar em invenções binárias
E agora?
Só resta sua memória,
Vaga e volátil memória...
Juntar palavras,
Montar versos
Recompor sua poesia,
Engolida por um maldito computador

Marcadores:

Restaurante do Engenho

Paredes históricas,
Em traços de arte
Retóricas...
Obras cobiçadas alimentam desejos gustativos
Traços eqüinos fundem e difundem a gula
Afloram em sentido olfativo
Incitam a olhos nus o pecado capital
Moás e totens, disfarçados de garçons
Conduzem com maestria a orquestra culinária
Um feudo anônimo lavra em temperos e condimentos,
Sustento que tosta, grelha, assa, ferve
Fogo, ardor e paladar...
Engenhosa arte do sabor
Engenho restaurador da Rua da Lapa
Nos caminhos da saudosa Paraty...

Marcadores:

O Sr. Largo dos Leões

Hoje passo por você, mas nunca como antes.
Te olho rápido, sempre correndo.
Mesmo assim, em pouco tempo,
Admiro suas árvores, seus ventos,
Paisagem bucólica que ainda me faz bocejar...
Agora passo sempre sobre rodas,
Que giram e me fazem lembrar,
Em movimentos circulares e cíclicos,
Manhãs ensolaradas, tardes chuvosas,
Noites intermináveis...
Vejo notívagos e taciturnos,
Que se cruzam em sintonias destoantes,
Paralelos opostos.
Histórias de um Largo,
Que ao largo de suas cercanias
Tem muito que contar.
Sonhos e planos, consagrados ou não,
Festas, recitais e bacanais...
Acolheu mochileiros, amigos e estrangeiros
Estou agora em outra praça,
Mas quando passo por você,
Me contagia um saudosismo infindável.
Sinto saudades do Largo dos Leões...

Marcadores:

Ecopoema

Acordou...
Na lembrança um saco de palavras,
O canto da cigarra,
O declamar de sonetos e versos.
Na boca um gosto de fel.
Arruma daqui...
Lembra dali...
Era um poema?
Era um conto?
Falava da cigarra e do poeta...
Voltou a dormir.
O que é a memória do poeta sem caneta e papel?
Uma ressaca ou uma vaga lembrança?
Poeta e cigarra, seres extintos.
O poeta não escreveu,
Esqueceu e foi esquecido
A cigarra não cantou,
Sem mata, desapareceu...

Marcadores:

Ao Sol do Meio Dia... À Lua da Meia Noite

Luz cortante, dissidente...
Dissipa, colore, clareia.
Calor pungente, ultravioleta.
Queima, aquece, bronzeia.
Racha, resseca, incendeia...
Envelhece o que pare
Desidrata o que cria
Carboniza florestas
Cela oásis em desertos tropicais
Incandescente sol do meio dia.

Luz prata, florescente...
Cromo crepuscular
Regente de marés
Estimulante do amar
Adorada maestrina
Faz menina virar mulher
Instiga mulher a copular
Marco cronológico
Fases, formas e ciclos
Reverencia o mar em flash e açoite
Dissemina fertilidade
Faz encher, minguar, crescer, renovar...
Imponente Lua da meia noite

Marcadores:

O Dilema do Garoto-Irmão-Menino-Homem

Garoto-irmão-menino-homem,
Compartilho da decepção,
Vivo, vejo e respiro a agonia.
Me alimento todos os dias.
Às vezes um prato recheado,
Outras, migalhas e farelos...
Mas sempre engulo tudo,
Bocado a bocado...
Inanição, depressão, frustração,
Desmotivação, pena, raiva, amor e dor.
Falemos em poesia a conversa fiada do botequim,
A falta, o excesso, as emoções do dia a dia...
O filme que vimos,
O livro que lemos,
A música que ouvimos...
Nada mais que exageros,
Falácias e celeumas.
Cuidado garoto-irmão-menino-homem!!!
A vaidade escorre em gotas traiçoeiras,
Nos cega, nos inunda de futilidades.
Polui de pretensões,
Disfarçando em caprichos,
A simplicidade de ver, ler e ouvir...
Declino sobre a vontade de superação,
A influência do criador é branda,
Mas a criatura, escondida no espelho d´água,
É puro narcisismo...
Vamos todos ver, ler, ouvir...
Vamos escrever poesias
Ou então sentar a beira do lago,
Vislumbrar nosso reflexo distorcido
Enquanto o mundo explode no vazio...

Marcadores:

Nunca Deixe de Ser Poeta

Nunca mais ouse a se auto-destituir do rótulo,
Título ou seja lá o que for...
Mas nunca diga que não é poeta !
A poesia é um ser vivo
Sente os insultos de suas palavras de abandono.
Poesia gosta de carinho,
Versos escritos, palavras brotando no papel
Pensamentos desconexos crescem a cada letra
Ganham vida na boca de quem as lê
São eternizadas nos ouvidos de quem as ouve

Marcadores:

Transformação

Deixe que o poema fale
Ecoe pelos ouvidos de que tem sensibilidade,
Quem não tiver,
Tornar-se-á sensível quando ler ou escutar.

Marcadores:

Psicopoema

Escrever é um exercício,
Saudoso vício que não quer parar.
Expulsão, explosão...
Encarnação de Freud
Em caneta, papel e palavras
A poesia é o analista do poeta
Ela ouve, assimila e cura
Cada poema uma seção barata
Cada leitor um paciente angustiado.

Marcadores:

A Bailarina

Entre flashes, imagens e sons,
Sobressaltos de pesar...
A memória me trai,
Estimula desejos
Traz um turbilhão de lembranças.
Dança frenética, balé de regressões
Shows, mirantes, ilhas e trilhas
Mas a bailarina se foi...
Ao descer das cortinas
Um palco vazio
Na platéia um corpo só,
À espera do bis...

Marcadores:

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Dorso

Com olhar cínico,
Arrisco admirar seu perfil.
Vislumbro contornos insinuantes...
Traços perfeitos capturados por uma lente mágica,
Eternizados sob fundo tênue.
Seu corpo levita
Seu dorso excita
Anjo desnudo e bronzeado...
Inspira e transpira sedução
Menina, quem pintou sua imagem?

Marcadores:

Equilíbrio

Equilíbrio, exercício de abstração...
Anjo e diabo se fundem
Ora um... Ora outro...
Desejo e libido
Entorpecem pensamentos,
Gestos e movimentos
Abstratos, concretos, discretos.
Impulsivo ou comedido
Nem razão, nem coação,
Libertação...
Nem racional, nem passional,
Instinto animal.

Marcadores:

Psicomotor

Você me excita,
Me instiga...
Depois me chama de diabo...
Mas no fundo,
Sou fruto do seu próprio pecado,
Sou fruto do seu pensamento,
Das suas fantasias.
Sou sua marionete telepática.
Não me condene,
Me use...

Marcadores:

Menino Cachaça

Meio menino... Meio homem,
Irmão, amigo, poeta e filho derradeiro
Sambista prodígio das rodas de rua,
Parceiro, cachaceiro
Boêmio itinerante da Lapa à Paraty
Nas malocas, esquinas e botecos
A pinga goteja sua língua,
Que o inspira a proferir palavras em versos

Marcadores:

Natal em Nuremberg

O tempo se arrasta,
Lento, nublado e avulso
O Rio ficou deserto e enorme
Debruço-me em livros,
Escuto Seu Jair do Cavaquinho,
Meu sentido me trai
Me deixa...
Vaga entre Nuremberg e Paris...
Quando volta,
Sinto gosto de doce,
Doce de feira,
Chocolate suíço,
Vinho francês e cerveja barata.
Meu paladar se confunde
Entre o fino e o popular

Marcadores:

Carnaval

Vamos ao que interessa,
Já que trabalho não enriquece,
Quero ser rico de folia
Milionário na alegria
Vou paro os blocos,
Que lá sou mais feliz
Sigo os cordões...
Onde um coro uníssono
Retumba em euforia,
Vou seguindo o trem da Central,
Atrás do bonde de Santa Tereza
Paro no Odeon, que lá tem miscelânea
Amanhã é outro dia
Se o sol não sair,
Vai chover confete e serpentina
No final, cinzas e ressacas
Pena que você se foi Carnaval...
Adeus Pierrô, Arlequim e Colombina
Ainda com a cara pintada de palhaço,
Despeço-me de você,
Meu querido carnaval.

Marcadores:

Resposta ao Amigo Folião

No carnaval uns vestem a máscara da coragem
Despindo-se de vergonha e inibição
Enchem de euforia seus corações,
Burlando a identidade cotidiana.
Outros se limitam à extravagância ritmada
Seguindo um Cordel de notas embrionárias
Embalados em coro de mímicas,
Letras lânguidas e escorregadias
Enfumaçadas, entorpecidas...
Mas todos queremos sempre o mesmo.
Queremos o riso malandro do boêmio
Queremos as gargalhadas do palhaço
Queremos a euforia coletiva
Queremos compor histórias
Queremos declamar a poesia improvisada
Queremos cantar os versos e marchinhas de outrora
Queremos, além de tudo, ver e sentir a alegria do folião

Marcadores:

Matar pra Viver

Já é tempo de matar saudade,
De matar academia,
De matar a cede,
De matar a vontade,
Já é tempo de matar o tempo...
A cada morto,
Um brinda à vida.

Marcadores:

Ando Esquecendo

Ando por aqui...
Ando por aí (em pensamentos e lembranças)
Ando por ali e acolá
Ando em andanças
Para lá e para cá
De tanto andar me canso
De tanto vagar me perco
De tanto sonhar acordo
De tanto pensar recordo
De tanto lembrar...
De tanto...
Ando...
Esqueço.

Marcadores:

Para Baudelaire

Tornar-me-ei ébrio!
Pois assim mandou Baudelaire...
Embriagar-me-ei de sua lucidez,
Que brada sobriedade em palavras rasas.
Quero tragar cada metáfora,
Embeber-me em versos viciosos
Açoitar as injúrias do ópio,
Evadir a realidade cotidiana,
Dilatando o tempo em fractais.
Valei-me Baudelaire!

Marcadores:

Largo de São Francisco da Prainha

Do alto da praça do samba
Via-se um mundo no ninho.
Passarinhos de bicos em riste,
Colhendo migalhas de acordes.

No chão da praça do samba
Ouvia-se o canto em coro,
Cantata em ritmo popular,
Estórias em letras e notas

Na praça do samba esbarravam-se amigos
Em cumprimentos sinceros e saudosos,
Em brindes de copos transbordantes,
Bebiam alegrias e lamentos em líquidos coloridos

Aos redores da praça do samba
Ecoavam risos, gargalhadas e espantos.
Enquanto maquiavam em filme,
A realidade jazia sonora e contraditória.

Nas cercanias da praça do samba
Filhos da Gamboa esgueiravam-se entre pés,
Colhiam os restos da alegria itinerante
Garimpavam o sustento em latas vazias.

Logo ali... No Largo de São Francisco da Prainha...

Marcadores:

Comum

Todo fim tem um começo
Um bom começo é...
Ouvir Ângela Ro Ro,
Comer amendoim japonês,
Beber Whisky
E não saber o que colocar quando o cd acabar

Marcadores:

Contato Abstrato

O contato existe
A lembrança insiste
Mesmo sem palavras
Mesmo sem ser vista
Mesmo sem tato
Mesmo sem pista
Mesmo sem cheiro
Mesmo sem chamego
Tapear o espaço
Sem toque, sem afago
Aguça sentidos,
Abstrai distâncias,
Transporta massa e matéria...
Une subconscientes e desejos ocultos...
Nos deixa mais perto... mais perto... mais perto...

Marcadores:

Espaço-Tempo de Galileu

A saudade que vem no vento
Sopra e sussurra ao pé do ouvido
Trás de longe uma lembrança empoeirada
Esmaga contra meu peito o tempo,
Que um dia a distância engoliu inteira.

Marcadores:

Primavera Viva

A cada passo uma reverência muda
Um desabrochar de cores
Um sorrir de flores
Um jardim em festa
Bom dia primavera!

Marcadores:

Para Chico, Tom e Vinícius


Sobre a mesa
Nem copos nem garrafas vazias
Apenas corações, corpos e mentes
Repletos de poesias
Compositor, maestro e poeta
Recompondo, regendo, declamando,
Decantando o álcool antes incorporado
Evapora em cifras, sonetos e composições
Três corpos esvaídos de inspiração
Descansam o cansaço da criação
Sobre a mesa...

Marcadores: ,

Lapso

Aproveito o lapso de lembrança,
Trégua entre razão e emoção,
Suspiro e descanso o coração.
Aguardo angustiado e descontente
O açoite da memória traiçoeira,
Lampejo lacerante e insistente.
Aproveito o lapso de lembrança...
Quero tornar volátil o incessante,
Amnésia duradoura...
Conforta e distrai o cotidiano.
Quero eternizar o esquecimento
Aguardo o próximo lapso de lembrança
Surto temporário e contraditório
De quem quer esquecer.

Marcadores:

Incontinência

Não falta fantasia,
Não falta lembrança,
Não falta tesão,
Não existe segredo.
Lembro de alegria e sensação
Imagino pose e sabor
Fico molhado só de fechar os olhos.
Quando abro...
Um cenário inunda minha retina.
Semi-cego, resta-me tato e olfato
Toco, cheiro, mas não tenho.
Falta realidade,
Falta esquecimento,
Falta solidez,
Falta alguém.

Marcadores:

Iminente Distância

A distância não impede a lembrança
Traz revoadas de saudades
Disfarça, entre espaços
A brevidade da memória
Volátil, intermitente,
Insaciável, iminente...
Encena por trás da retina
Fantasias, esperanças
Inconsciente ato falho
Surpreende no exato momento
Preenche o espaço vago
Encurta a inocente distância
Assim é a lembrança,
Sorrateira e inesperada,
Brota e dissipa sem hora marcada.

Marcadores:

O Pão que o Diabo Amassou

Mais uma manhã,
Mais uma corrida,
Mais um encontro indesejado...
Mais lamúrias e lágrimas
Preciso saber quando vai passar,
Ah meus Deus!
Transformai o pão que o Diabo amassou
Em torta de chocolate!

Marcadores:

Tudo Caminhando

Tudo caminhando...
Entre uma decepção
Um novo romance
Uma depressão
Estímulos e desânimos
Tudo caminhando...
Entre passos tortos
Saltos e quedas
Diásporas naturais
Tudo filosoficamente verborrágico
Tudo caminhando...
Entre letras confusas
Palavras mudas e garrafas vazias
Tudo caminhando...
Mas não sei pra onde.

Marcadores:

Aborto

Copulei, germinei,
Finalmente abortei o feto,
Natimorto dentro do corpo que não era meu
Morreu...
Desafeto sem vida,
Cuspido do mundo partido.
Semente que não germinou
Anjo órfão da precipitação
Vago filho do egoísmo
Sem pai, sem mãe...
Na terra de ninguém.
Oxigenei, renovei,
Nasceu...
Afeto da vida,
Concebido em mosaico
Remontado em cacos
Se criou,
Cresceu,
Prosperou.

Marcadores:

Incessante

A noite passou,
O filme também...
Tão rápido
Quanto a saudade que chegou
Quero que hoje o dia galope
Que a noite caminhe em passos lentos
Que tudo pare,
Que você repare,
Que você ampare
O que não parou
Bate naturalmente cadenciado.

Marcadores:

Pressa da Noite

Não tem sol...
Tampouco chuva...
Mas tem palavras,
Vontades,
Saudades,
E muito tesão em estar com você.
Que caia logo a noite

Marcadores:

Fome Noturna

Acordei sentindo seu cheiro,
Despertei querendo seu corpo,
Levantei ainda louco...
De tesão, de paixão, de desejo,
Querendo mais.

Marcadores:

Vontade Colorida

Quero te dar carinho,
Quero te dar alento...
Quero ser o vento,
Soprar bem forte,
Levar pra longe o tormento.
Quero ser a brisa das manhãs de primavera,
Trazer o frescor
O perfume das flores,
Preencher seus dias com amores,
Colorir com alegria e cores...
Quero ser seu arco-íris.

Marcadores:

Fracionário

Uma pausa...
Um momento meu.
Um retrato seu
Por um segundo paro o mundo,
Só pra pensar,
Só pra imaginar,
Só pra sentir escorregando entre os dedos
Tempo intangível
Fugitivo da mão ampulheta
Por um segundo granular

Marcadores:

Festa de Jorge

Embaladas por Jorge
Armas de devotos sonoros
Povoaram almas que não estavam sós!
Na fluidez da noite,
Na malevolência sínica da inocência
No pequeno calabouço de Santa.
Com alcance de mil festejos
Disparavam acordes entorpecentes,
Inebriavam com a líquida libido
Esbarravam-se ritmos
Flertavam sorrisos
Gargalhadas e olhares maldosos.
Tropeçavam-se na própria alegria
Anseios minimalistas,
Sem grandes necessidades,
Nem espaço,
Tampouco luxo.
Surto eufórico e coletivo
De uma noite singular.
Salve a festa de Jorge!

Marcadores:

No Colo da Poetisa

Inspiração passante,
Vaga em distintas latitudes
Faz brotar sensações
E na quietude de uma noite de segunda
Não me vejo mais só com a lua cheia
Estou cercado por fêmeas
Uma regente do astral
Outra, concreta e abstrata poesia
Nascida da lembrança e da saudade
Daquela que me inspira,
Que me arranca a solidão.
Poetisa que me deixa em sua companhia,
Descansar no colo de suas palavras.

Marcadores:

Banana com Laranja

O cheiro se evapora,
O gosto se dilui
Mas a lembrança insistente
Ressuscita sentidos.
Faz brotar do vapor,
Faz salivar em sabor
O que se diluiu
O que se evaporou.
A memória nos trai,
Sorrateiramente...

Marcadores:

Sensitivo

Deixe que acorde,
Que o despertar lento da manhã
Fale em palavras mudas,
Sem sobressaltos...
A cada estalo sensitivo
Uma explosão de sabores,
Um arco-íris de cores
Uma brisa de cheiros,
Tudo abstrato.

Marcadores:

Monossilabicamente avulsa
Minimamente expressiva
Solitariamente contundente,
Só.

Marcadores:

Gozo Tântrico

Quero impregnar meu cheiro,
Embebedar no líquido involuntário
Misturar, entranhar no seu ventre
Vagar entre movimentos sinuosos
Escorregar entre a madrugada
E o relevo vivo do seu corpo
Refletir no teto sombras tântricas
Quero olhar pela sua janela
Me surpreender na atmosfera insana,
Sentir a alma branda...
Quero suspirar no gozo profundo.

Marcadores:

Lasciva Saudade

O dia chega sem compaixão,
Prelúdio da impiedosa segunda-feira.
Traz chuva fina de inverno,
Reinicia o ciclo do cotidiano vicioso,
Faz do tempo seu cúmplice,
Do relógio seu algoz,
Frio e calculista,
Capataz da lasciva saudade.

Marcadores:

Sinuoso Ímpeto

Mesmo sem coragem,
Simplesmente me arraste...
Bastam palavras e artimanhas
Poucos gestos me seduzem
Não resisto ao seu anseio
Prefiro o deleite líquido
O suor, o hálito e o corpo quente
Que me abatem ante a resistência
Não permita que o medo hesite,
Deixe que o ímpeto excite,
Que arda, que exploda,
Que deixe...

Marcadores:

Saudade

Saudade é coisa boa
É lembrança com tesão
É falta que não se sente à toa
É peça pregada no coração

Saudade é o vento que traz
Frio manso, vagaroso
É chuva fina, gota audaz
É inverno rigoroso

Saudade é chuva forte
Molha, revigora e refloreia
É presságio da sorte
É primavera que incendeia

Saudade é feto!
É gestação escondida
Nasce e cresce até o teto
Saudade é vida!

Marcadores:

Quero

Quero coisas simples,
Beber cerveja, ouvir música.
Descobrir sons e sabores
Quero coisas mais rebuscadas,
Municipal, Paraty e outros arredores
Perambular por ruas e trilhas
Quero caminhar na noite fria,
Deixar o vento soprar o tempo entre árvores.
Deixar que aconteça
Sem planos, enganos ou contratempos
Quero que queira,
Sem medo.

Marcadores:

Alusão a Vinícius

Aludindo Vinícius em "O dia da criação",
Digo que sinto saudades porque hoje e sábado!
Dia de ver o domingo chegar,
Divagar, de olhos bem abertos de frente pros seus!
É dia de sentir teus sentidos,
Galopar no seu fruto
Entorpecer...
Ser entorpecido.
Misturar o sumo e a polpa
É dia de sentir gosto bom!
Salivar de prazer,
Expelir odores
Gozar até morrer
É dia de rolar pelo tapete da sala,
Ouvir e dividir gargalhadas.
Sábado é dia de querer mais disso.

Marcadores:

Off Flip - Picareta Cultural

O que faz um peito global
Saltar aturdido
Por traz do vestido?
Talvez a falta de um pau
Quem sabe uns goles a mais
Um cínico desnude
Um bico exposto
Um monte de olhos
Mirando...
Um mamilo flácido
Erodida mente
Tímida aureola desnuda
Voracidade poética
Diluída na loucura etílica
A língua trôpega
Proferindo absurdos
O povo ávido por versos
Ela, ébria picareta,
Não falava letra com letra
O busto sem lastro
Sobre a mira,
Sobre a ira
Mirando...

Marcadores:

Manhã Dégradé

Naquela manhã,
Tive que ser forte
Te olhar e, sem hesitar,
Dar um passo...
Começar o dia na displicente contradição.
Tropeçar no dilema cotidiano,
Mero obstáculo imaginário.
Abstrair a insaciável rotina
Predadora de afáveis fantasias,
Tive que ser forte...
Ver a distância crescer,
Lentamente dissipar odores e vestígios
Sentir a noite de ontem descortinar
Na púrpura manhã dégradé
Tive que ser forte...
Resignar a clareza da aurora
Encarar o fim da utopia noturna
Sentir esvair com a penumbra
Sonhos e desejos antes infindáveis
Tive que ser forte...
Nos passos daquela manhã.

Marcadores:

Regresso

Tô sentindo você vindo
A proximidade chegando
A distância indo...

O corpo em regresso
O tempo em progresso
O resto não meço.

Marcadores:

Breve Mente

Meu corpo em repouso
Sente e ouve nos sonhos
Responde seu clamor em sobressaltos
Presságios noturnos
Estímulos inconscientes, involuntários
Explodem na líquida libido
Acordo sem saber distinguir
Realidade e fantasia

Marcadores:

Toada de Fagner

No ímpeto do gesto,
Contágios e euforias
Livres em sopro de menino
Imaginário e desprendido
Insiste no assovio terno da cantoria
Transmuta passantes,
Esbravejantes em musicistas entonados
Ludibria mazelas noturnas
Forma, em coro, uma cantata urbana
Uníssona boemia...

Marcadores:

Mãos

Com as mãos me asseio,
Carrego o sustento, me alimento...
Afago o coração,
Aceno em despedida
Enxugo lágrimas de partida
Faço gestos obscenos
Contraio corpos em manuseios
Acalento, alicio...
Com as mãos não suporto inércia
Vicio em toques
Dedilho notas e faço dançar
Reverencio, abuso
Suporto a cabeça a pensar...
Minhas mãos, que nem tudo toca,
Quase tudo alcança
Menos saudade,
Mão de ferro da esperança.

Marcadores:

Conversa de Botequim

Pronto! É sexta-feira!
Deságua a bebedeira
Ladeira abaixo...
Seja em Olinda, Santa Tereza ou Bairro Alto...
Seja em qualquer descida
Qualquer praça, logo junta a agremiação
Chega um daqui, outro de cá,
E lá vem outro de acolá
Fala tu nego veio?!
E aquela nega... Rolou, foi?
O papo rola líquido
Entre beiras de copos,
Tilintar de garrafas rodopiantes
Uma celeuma tardia profana ouvidos
A vida urge em centelhas múltiplas
Aos bons passantes, tudo desconexo
Já aqueles aturdidos por divinas histórias,
Já sabiam...
Vociferam ali amigos de copo ou labuta,
Gastando a alegria de sexta em palavras rebuscadas,
Repletas de polimorfismo e contextos lúdicos,
Mas que abrigavam na cínica e tímida simplicidade
A euforia do fim do dia.

Marcadores:

Mulher Dia

E lá vem ela,
Toda faceira, chega ao remanso da penumbra,
Desnuda, tapeia a labuta, arranca agrados
Fogosa nega, pontual e infalível
Nos mostra uma esperançosa euforia
Traz ao fim a derradeira peleja do dia
Em sobressaltos inicia a alegria
Da tão sonhada sexta-feira!
Chegue mansa menina e me traga surpresas...

Marcadores:

Tecnofilosofia

A virtuosa modernidade se diz virtual
Te abraça com ávidas garras da criação
Em rebuscadas siglas te envolve no egoísmo da solidão
Queremos o ócio criativo
Brotando em palavras,
Divagar sobre a mais cúmplice das culpas.
Despir a nefasta racionalização,
Sombra da lógica booleana que nos persegue
Livrai-nos do mal, da tecnofilosofia
Libertai-nos sobre mão tênue,
Que venha a paz em palavras simples,
Fluidez contextual de dias amenos...

Marcadores:

Findo

Vago entre passos amistosos
Cadenciando o vai-e-vem de pés calejados
Ando para pensar,
Para ver passar entre paralelas
O mundo animado que não se ver parado
Trombo com mambembes transeuntes
Tontos no arrasta-pé a levantar poeira
Olho por cima do cenário vivo
Ventríloquos e outras marionetes
Feito um balaio de fantoches
Se confundem, se acovardam
Somos todos reféns do tempo,
Surdo de marcação impondo o cotidiano retumbante
Lamento sufocante batendo em retirada
Finda ano,
Finda vida,
Findo mundo,
Finda nota,
Findo som,
Findo passos.
Findo.

Marcadores:

Coletivo Incessante

Fito bocas de distintas etnias,
Em gestos labiais
Pronunciando línguas globais
Eu, na mais muda linguagem
Somente interpretava cada palavra proferida
Calado, mínimo, fazia minha leitura idiomática,
Jazia quieto, contemplando o movimento.
Momento único de reflexão
Entre freadas e incontornáveis curvas do coletivo
Seguia viagem da curta boemia à sobriedade compulsiva
Logo a inércia estagnará a dinâmica urbana
Me deitarei na cama...
Até que o pensamento adormeça,
Os sonhos não serão vívidos como agora...
Múltiplos presságios invasivos,
Lembranças raras do meu subconsciente.

Marcadores:

Neruda e o Mamute

Naquela tarde de domingo
Reunião de amigos
Para trocar presentes,
Sorrisos e histórias.
Aos poucos sala cheia
Palavras simultâneas,
Conversas paralelas,
Música incessante,
Petiscos, cachaça e manifestos,
Risadas e lembranças de ausentes.
Na brincadeira iniciada pela poesia de Quintana,
A descrever Meninazinha presenteada,
Logo surge um poema de Neruda.
Da voz entorpecida pelos versos
Soa pronúncia trôpega de palavras estrangeiras
Atuação em gestos e discurso cativante
Segue o amigo em recital extenuante
Aos presentes um surto coletivo
Lágrimas de risos empolgantes,
Gargalhadas em prantos,
Salva de palmas, assovios e clamores
Bravo! Bravo!
Gritávamos ao desfecho da poesia...
Incorporado por Neruda,
O poeta Mamute declama em sensibilidade
Toda grosseria que lhe é injustamente atribuída,
Contrariando estereótipos e rótulos.
Em coro, rogávamos em suplicas...
Queremos Mamute, poeta de Neruda!

Marcadores:

Lágrima

Lágrima lúgubre
Linha líquida lacrimal
Lânguida leveza
Lamento longitudinal
Laxante liquidez
Lava lentamente o limo
Liberta lodo e libido
Lamúria láctea
Lastimável leito luminoso
Lume luciferino
Legítima ladra letárgica
Leviana linfa
Livrai-me da loucura.

Marcadores:

Rodas de Sábado

Ocupávamos vagamente o tempo
Entre rodas e raios girando a roda
Em movimentos cortando o vento
Percorríamos a princesinha em caravana
Cada qual com sua oficina ambulante
Pensamentos assíncronos e destoantes
Dispersavam no espaço da indefinida distância
Entre o arfar do cansaço e a panorâmica deslumbrante
Poucas palavras a ilustrar o estado contemplativo
Contornos e curvas delineavam o percurso
Ao fim da linha, asas e sonhos de Ícaro
Ciclos de idas e vindas uniam pontos distantes
Nosso regresso, nossa partida, nosso recomeço...
Içamos vôo, logo a pousar em porto calmo
Em ritmo lento, atracamos na mureta da Urca
Saciamos sede, enaltecemos paladar
Nos entorpecemos em contos, embebedando a imaginação
Logo se aproxima mais uma roda
Abastecemos nossas memórias com cenas renovadas
Retornamos ao ciclo itinerante
Chega, para, lava, troca e parte...
Quatro rodas nos levaram ao Outeiro
Celebrações em roda de amigos
Mais contemplação, mais paisagem
Mais degustação,
Mais personagens...
Mais histórias.
Gira a roda no molhado
No retorno cansado daquela roda de sábado.

Marcadores:

Pra falar de Sexta

Pra falar de sexta, dona de todos os dias,
Respiro fundo,
Meço cada palavra compondo rimas
Cadencio movimentos coordenados
Minimalizo um mundo
Retumbo o folclore da alfaia
Tiro sons, formo ritmos
Orquestro acontecimentos.
Pra falar de sexta conspiro
Paro o tempo, manipulo acordes
Conto notas e cifras,
Monto partituras...
No compasso da construção
Nasce harmonia
Pra falar de sexta me inspiro
Pra falar de sexta me confundo
Não sei se é poema ou melodia
Pra falar de sexta não precisa palavra
Nem música, nem poesia
Somente sexta.

Marcadores: