quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dúvida

Surge como um nó na garganta
Como no calafrio de um susto
Na surpresa do soluço incontido
Lá se vai, com altivez e reticência
A incontinência da dúvida,
Com toda sutileza...
Deixando para trás
Apenas incerteza.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O Mote do Berro

Falo à minha alma todas as contradições
Passo trote, saboto o resto da certeza
Ouço cada palavra traiçoeira
Vejo o vulto proferido
Dar a volta palmo à frente
Até que o berro trôpego e traidor
Reverbere no próprio ouvido,
Que o eco da dislexia
Retorne como mote
A razão e a dor.

sábado, 2 de outubro de 2010

Ambulante da Senador Dantas

Entre tantos outros ambulantes,
Uma negra senhora, vendia mimos na calçada
Ouviu-se o grito: "É o rapa!!!"
Logo em seguida zuniu o apito
Todos, com exceção daquele corpo carcomido da lida,
Esquivaram-se na correria
O companheiro catou o que caira
O mendigo dobrou o tabuleiro
Passantes aos gritos diziam: "Vamos Tia! Corre!"
O guarda esmureceu, delegou ao passo toda culpa
Fez do tempo seu cúmplice
Retardou o ritmo, se negou o execício do poder
Parou, enquanto tudo se movia a sua frente
Do peso do fardo nada ficou
Lá se foi a senhora com seus mimos
E ele, feliz a contemplar a fuga.