quarta-feira, 16 de novembro de 2011

À Sete Chaves

Quero te ler mais,
Quero te ler toda!
Dispa-se em palavras
Prometo somente ler,
Guardar meu entendimento
Debaixo de sete chaves
As chaves embaixo do tapete
Da porta da sala.
Entre sem bater,
Entre sem dizer
Palavra.

Palavra Nua

Intenso, latente
Despudoradamente eloquente.
Firme como falo,
Invasivo como a fala
Palavra dita sem rodeios
Espelho com meu nu refletido
Com toda liquidez
Com toda textura
Com todo corpo
Com toda
Com tudo
Despido,
À mostra

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Telúrio

Prolongaria o desjejum até o jantar
Ou até saciar a fome,
Ou até abrandar a febre da libido
Meu corpo ainda incandesce
Transita entre elementos
Matérias e minerais,
Telúrio semicondutor
Em plena combustão

sábado, 12 de novembro de 2011

Sorrisso de canto de boca

Imaginar formas sem contato
Receber gestos involuntários
Pegar de tuas mãos
Sem pele, sem pelo
Sem tocar um fio
Me contentar a cada ato..
A cada gota furtada,
A cada gozo inocente
A cada intenso espasmo
Olhar pro céu aos risos
Por sentir do infinito
Que o prazer não finda,
Nem a olhos nus

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Valsas e voltas

Da poesia, assovio o lúdico momento
Passado há tempos em silêncio
Outro dia ouvi um cantarolar em sonhos,
Notas suaves como canção de ninar

Do prelúdio que não passou
Do minueto a delonga da valsa
Do compasso a presságios de fantasias
Sigo compondo a sinfonia

Tudo acontece,
Tudo torna,
Tudo retorna,
Tudo finge passar.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Passatempo

Ahh tempo caduco…
Deixe de ser miserável
Desande a passar em passos largos
Leve contigo este vasto instante
Prefiro a ausência desses dias
A contar horas intermináveis
Passatempo, passa...
Passe desta para melhor,
Antes que tudo passe
Passatempo...
Antes que passe eu.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

De aromas e outros sabores

Aquele dissonante surto,
Derradeiro ato em desalinho,
Minguou toda ternura da lua
Cobriu de pó o árido rito
Dissipou aromas de lavanda e alecrim
Diluiu sabores de vinho e romã
Calou os sentidos do mito
Subtraiu da memória a cálida lembrança
Deixou apenas imagens,
Ainda não reveladas.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Favos de Tempo

Maculado o pólen fecundo
Desprendido, interrompido.
Daquele tempo, fluiu em veias marginais
Toda flor, todo mel, toda dor.
Aleatório movimento do tempo.
Daquele passeio sem pretensões
A maestrina natureza se refez,
Compôs em fados, tangos e outras bossas
Todo sonho, todo doce, toda cor
Pôs à prova o velho, o novo, o sonho,
A abelha, o favo e o amor.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fio da Fome

Sinto vir de longe um fio de desejo
Chega tímido como o entardecer
Dentro em pouco causa alvoroço
Revira folhas caídas
Daquele remanso esquecido
Daquele mundo desfalecido
Daquele desengano...
De onde o tempo repousa,
Sinto vir de longe o fio da trama
Me envolvo, me prendo à teia
Sou presa fácil,
Guardado,
Sem prazo de validade.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Passo Lacônico

Vivo num pé e noutro
Vou e volto no mesmo passo.
No devir dos sonhos,
Bordo no tempo o derradeiro lampejo de luz
Rezo, suplico um simples regalo
Como agrado da graça,
Apenas um sortilégio sem lastro.
Vou num pé, volto noutro
Escancho um passo adiante,
Persisto na inquietação da busca
A cobrir léguas no breve piscar.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Simpatia

O espaço se alisa em retas
O tempo se ausenta,
Reflui em retirada

Sem forma,
Sem hora,
Sem ar.

Passa o vasto instante
Reduz a derradeira reza
Em um breve surto

Três goles d'água
O resto pra traz,
Foi-se o soluço.

Que simpatia...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Quase Pedra

É quase uma beleza alcançável,
Não fosse o desconhecimento mútuo.

É quase uma fábula imaginária,
Não fosse o desejo curvo à visão.

É quase uma chance remota,
Não fosse o resquício de esperança.

É quase uma frustrante desistência,
Não fosse o dito popular:

“Até as pedras se encontram”.

Cortes de Chita

A veste marca em linhas
A geometria põe à prova o contorno sutil,
Sensualiza e nutre olhares.

O corpo, objeto da imaginação,
Reage ao roçado da trama
Enrijece, transpira e balança

Ao abrigo de vincos,
Seja seda, cetim ou algodão
O pano tece na carne

Com felpos e fios laça a pele
Cria texturas e formas,
Molda o pecado,

Em cortes de chita.